NADA A INVEJAR - Vidas comuns na Coreia do Norte_Barbara Demick

"Dupla delícia/ O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado." Mario Quintana

Nada a Invejar - Vidas Comuns na Coreia do Norte (Bárbara Demick, publicado em 2013) trouxe a necessidade urgente de registrar minhas principais leituras de hoje em diante. Leio por prazer romances, biografias, relatos de viagens e países, livros diversos de política, religião e de vez em quando um retorno aos clássicos. Mas minha queda, sem dúvida , é pelas sociedades diferentes, pela vida real, meu interesse é no ser humano e em todos os seus conflitos e modos de vida atípico.
O crescimento e enriquecimento que Nada a Invejar me trouxe marcam o começo dos meus registros. É tão impressionante o relato da jornalista Barbara Demick que a partir dele inicio essas observações. O prazer de ler por ler e aumentar minha ilha do conhecimento, nas palavras do físico Marcelo Gleiser (próxima leitura não obrigatórianão tem preço.

As histórias de Nada a Invejar, tão distantes e diferentes da minha realidade geraram uma curiosidade ainda maior pela Coreia do Norte. A partir da leitura que enche qualquer ser humano de revolta, torna-se impossível não debater o regime político daquela ditadura religiosa. Somos forçados a nos posicionar, indicando que nos tempos atuais é difícil imaginar que seres humanos de um país inteiro sejam tão escancaradamente desrespeitados em seus direitos fundamentais.

Contanto a história de seis pessoas comuns que viveram na Coreia do Norte nos anos 90 o que parece ser a maior lavagem cerebral de um povo em todos os tempos, o livro é uma riqueza. O regime relatado é a aplicação prática de 1984 e A Revolução dos Bichos de George Orwell, tudo junto, com requintes de crueldade. Receita perfeita de como subjulgar um povo, forjando um deus e impondo uma religião. É inacreditável que seja real, parece mais uma invenção.

Pra não esquecer:

Kim Il-sung: 

A força do regime vinha da habilidade de isolar completamente seus próprios cidadãos. Kim Il-sung era o deus daquele país. Sua história de mentira era contada tantas vezes virou verdade na cabeça dos norte coreanos. O culto à personalidade foi elevado a um novo patamar com Kim Il-sung. Ele usava o poder da fé. "Ao chegar ao poder Kim Il-sung fechou as igrejas, baniu a Bíblia, deportou fiéis para regiões remotas do interior e se apropriou da iconografia e dos dogmas do cristianismo". Havia relatos em jornais dos milagres que ele promovia. A doutrinação começou na infância. Como Jesus Cristo, o nascimento do filho de Kim Il-sung teria sido anunciado por uma estrela radiante no céu e pela aparição de um lindo arco-íres duplo. Num país totalmente fechado, todo tipo de propaganda era pra deificar o ditador e ninguém lançava qualquer dúvida quanto à sua divindade. Nas casas de todos os norte-coreanos era obrigatório um altar para Kim Il-sung ser reverenciado. O quadro dele era limpado com um pano branco que só poderia ser usado para esse fim.

No dia 24 de dezembro de 2014 li o Capitulo 11 - Andorinhas Errantes que relata a fome vivida pelo país na década de 90, com ênfase na vida sofrida das crianças. De tão rico e pelo tanto que me tocou, o correto seria escrevê-lo inteiramente. Mas o destaque é para um resumo da autora sobre o regime:

"Era o país que desenvolvera os sistemas mais esmerados para manter os cidadãos sob controle. Todo mundo tinha um endereço fixo e um local de trabalho, e ambos eram atados às rações de comida - quem deixasse sua casa não recebia alimento. As pessoas não ousavam visitar um parente na cidade vizinha sem um visto de viagem. Até mesmo visitas que iriam só passar a noite precisavam ser registradas junto ao inmimban que por sua vez tinha de comunicar à polícia seu nome, gênero, número de registro, número de visto de viagem e o objetivo da visita. A polícia empreendia batidas regulares por volta da meia noite para se assegurar de que ninguém tinha visitas não autorizadas. Era preciso ter consigo todo o tempo um "certificado de cidadão" (...)"

"Em face da escassez de alimentos, muitas famílias norte-coreanas empreenderam uma triagem brutal em seus próprios lares - os pais negavam comida a si próprios e às vezes aos avós idosos com o intuito de manter viva a geração mais nova. Essa estratégia produziu um número incomum de órfãos (...)"


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